Uma mudança significativa nos padrões de gastos relacionados a animais de estimação é observada no Brasil após o período de restrições na pandemia. Durante o auge do isolamento social, quando as opções de lazer e saídas foram limitadas devido ao lockdown, o poder aquisitivo das famílias brasileiras aumentou, levando à aceleração na adoção e custos com cães e gatos. No entanto, com o retorno da vida social ao normal, as despesas voltaram a ser realocadas para outras áreas, impactando os gastos com animais de companhia.
De acordo com a Pesquisa Radar Pet 2023, realizada pela Comissão de Animais de Companhia Comac) do Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan), com base na Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) 2017/2018, o tratamento em clínicas era de 48,84%, principal gasto de saúde das famílias brasileiras em relação ao segmento. Em sequência, apareciam os investimentos destinados aos serviços de alimentação (39,53%) e higiene (11,63%). No entanto, em 2023 houve uma variante na distribuição desses consumos. Os cuidados de saúde caíram para a segunda posição, representando, agora, 33,50% do orçamento. Ao mesmo tempo, as despesas com alimentação assumiram a liderança, totalizando 49,63%. Já a higiene representa apenas 16,87%.
“Essa mudança reflete não apenas a necessidade de adaptação dos orçamentos familiares, mas também a dinâmica em constante evolução das prioridades de consumo. Embora os pets ainda sejam amados membros da família, a retomada das atividades fora de casa está gradualmente equilibrando a alocação de recursos financeiros. A pandemia trouxe à tona uma maior valorização dos animais, levando a um redirecionamento expressivo dos custos familiares. No entanto, conforme a vida pós-pandemia se estabelece, muitas famílias tiveram que adaptar seus orçamentos para abraçar novamente experiências fora de casa, criando um cenário de transformação nos hábitos de consumo. A prioridade é alimentação e não mais levá-los ao veterinário”, explica Gabriela Mura, diretora de Mercado do Sindan.
Cenário econômico das despesas dos pets nas famílias brasileiras
Com base no estudo, de acordo com a POF 2017/2018, observou-se que a parcela de gastos destinada ao tratamento de animais em clínicas era de 0,210%, enquanto as despesas com higiene representavam 0,050% e os alimentos atingiam 0,170%. Contudo, a atualização do IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) em outubro de 2022 revelou uma queda, passando a ser 0,280% para o tratamento em clínicas, 0,138% para serviços de higiene e 0,400% para alimentos. Já a atualização do IPCA em maio de 2023 apresentou percentuais de 0,272% para o tratamento de pets em clínicas, 0,137% para higiene e 0,403% para alimentação.
Segundo Robson Gonçalves, economista e consultor da FGV, existem várias razões pelas quais os gastos com alimentação para animais de estimação podem ter aumentado ao longo desse período. Isso pode ser devido a uma mudança nas preferências dos proprietários em direção a alimentos de melhor qualidade, ao aumento dos preços dos alimentos ou até mesmo ao aumento na população de cães e gatos. “Se considerássemos que os gastos relacionados a animais de companhia tivessem aumentado de forma consistente e equitativa em todas as três categorias, o cuidado em clínicas veterinárias representaria 0,397% das despesas das famílias em 2023, em vez dos 0,272% registrados. Em termos práticos, isso implicaria em desembolsos familiares adicionais da ordem de R$7,5 bilhões por ano”, especifica.
Nos últimos anos, houve também uma transformação fundamental na relação entre os seres humanos e seus animais, o que também afetou a dinâmica com os médicos-veterinários. Segundo a Pesquisa Radar Pet 2023, há uma década, esses especialistas eram predominantemente procurados quando cães e gatos apresentavam problemas de saúde ou comportamento, e a ênfase estava na cura. 85% dos cães e 90% dos gatos eram levados ao profissional quando apresentavam algum problema relacionado à saúde. Atualmente, a relação entre médicos-veterinários e tutores é mais abrangente e orientada para a prevenção, à medida que as pessoas buscam prolongar a vida de seus animais. Embora os médicos-veterinários ainda sejam referências para orientar em momentos de adversidade, eles não são mais a primeira e única fonte de informação.
Os dados também revelam um crescimento consistente na proporção de cães e gatos por habitante no período de 2019 a 2023. Em 2019, a média era de 0,277 cães por habitante e 0,124 gatos por habitante e esses números progrediram gradualmente para 0,299 cães por habitante e 0,149 gatos por habitante em 2023. Esses indicadores culminam em uma estimativa de 61,1 milhões de cães e 30 milhões de gatos na população total. As taxas de crescimento entre 2021 e 2023 refletem um notável aumento estimado de 5,2% na população canina e um significativo crescimento de 9,5% na população felina. Em um cenário de constante evolução no mercado de produtos e serviços para pets, a busca por excelência e bem-estar se destacam.
O avanço contínuo nesse setor é testemunho do compromisso em oferecer produtos de qualidade que atendam às crescentes demandas dos tutores. Durante o período pós-pandemia, a alimentação emergiu como líder, permitindo uma reavaliação das prioridades e direcionando os gastos para o bem-estar, refletindo a crescente preocupação com a saúde animal.
Sobre o Sindan
Fundado em 1966, o Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Saúde Animal (Sindan) congrega 91 empresas responsáveis por cerca de 90% do mercado brasileiro de medicamentos veterinários. Entre as suas atribuições, estão a representação legal das indústrias de saúde animal perante os órgãos oficiais, a produção de estudos, coordenação de campanhas sanitárias e educativas, além da comunicação e defesa da reputação do setor.
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